quinta-feira, 9 de abril de 2015

Aulas: 25/03/15 e 30/03/15 - Análise da obra Juiz de paz da roça

Complementando a aula anterior (24/03/15), analisaremos um trecho da obra de Martins Pena: Juiz de Paz da Roça

Questionamento inicial:
Quais as semelhanças e diferenças entre o texto de Martins Pena e a letra de música Caviar?

Para saber mais!

 
"Juiz (assentando-se): Era muito capaz de esquecer. Sr. Escrivão, leia o outro requerimento.
Escrivão (lendo): Diz Francisco Antônio, natural de Portugal, porém brasileiro, que tendo ele casado com Rosa de Jesus, trouxe esta por dote uma égua. “Ora, acontecendo ter a égua de minha mulher um filho, o meu vizinho José da Silva diz que é dele, só porque o dito filho da égua de minha mulher saiu malhado como o seu cavalo. Ora, como os filhos pertencem às mães, e a prova disto é que a minha escrava Maria tem um filho que é meu, peço a V.S.ª mande o dito meu vizinho entregar-me o filho da égua que é de minha mulher.”
Juiz: É de verdade que o senhor tem o filho da égua preso?
José da Silva: É verdade; porém o filho me pertence, pois é meu, que é do cavalo.
Juiz: Terá a bondade de entregar o filho a seu dono, pois é aqui da mulher do senhor.
José da Silva: Mas, Sr. Juiz...
Juiz: Nem mais nem meio mais; entregue o filho, senão, cadeia.
José da Silva: Eu vou queixar-me ao Presidente.
Juiz: Pois vá, que eu tomarei a apelação.
José da Silva: E eu embargo.
Juiz: Embargue ou não embargue, embargue com trezentos mil diabos, que eu não concederei revista
no auto do processo!
José da Silva: Eu lhe mostrarei, deixe estar.
Juiz: Sr. Escrivão, não dê anistia a este rebelde, e mande-o agarrar para soldado.
José da Silva (com humildade): Vossa Senhoria não se arrenegue! Eu entregarei o pequira.
Juiz: Pois bem, retirem-se; estão conciliados. (Saem os dous.) Não há mais ninguém? Bom, está
fechada a sessão. Hoje cansaram-me!"
MARTINS PENA, Luis Carlos. Juiz de Paz da Roça. Fonte: Ministério da Cultura. Fundação Biblioteca Nacional. Departamento Nacional do Livro. Disponível em:<http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_
obra>. Acesso em: 21 out. 2008. 

1. Responda às seguintes questões:
a) A conduta do juiz revela uma personalidade. Descreva-a.
b) Que palavras dificultaram sua compreensão do texto? Como você resolveu essa dificuldade?
2. Elabore um pequeno resumo do texto de Martins Pena, procurando encontrar a crítica social presente nele. Lembrem-se de que resumos não apresentam opiniões, limitam-se apenas a sintetizar as ideias do texto de outros.
3. O texto de Martins Pena foi escrito no século XIX e mantém a forma de se expressar da época. Isso pode trazer alguns desafios para o leitor do século XXI. Por exemplo, o que você entende quando o texto diz: “Sr. Escrivão, não dê anistia a este rebelde, e mande-o agarrar para soldado”?

Estudando a ambiguidade
Observe:

"Acontecendo ter a égua de minha mulher um filho, o meu vizinho José da Silva diz que é dele, só porque o dito filho da égua de minha mulher saiu malhado como o seu cavalo."

Por que essa passagem provoca riso em muitos leitores?

Vídeo complementar:

Leitura complementar:


Em 1833, Martins Pena escreveu Juiz de Paz da Roça.  O título da obra faz referência a um cargo de grande responsabilidade e poder. Supunha-se que a pessoa havia estudado muito, feito faculdade de Direito e que ela mandava nos outros a seu redor. Ainda mais no século XIX, em que havia poucas oportunidades para as pessoas estudarem. Roça, por outro lado, lembra o campo, ambiente de pessoas mais simples.
 Destaque-se os aspectos autoritários na conduta do Juiz de Paz no texto de Martins Pena. Ele é muito mandão e não está realmente interessado em resolver os problemas das pessoas, mas, antes, prefere se ver livre daqueles que vão até ele. Mais ainda, abusa do poder e ameaça quem não faz o que ele quer.
Podemos entender neste trecho:  “Sr. Escrivão, não dê anistia a este rebelde, e mande-o agarrar para soldado” que  “agarrar para soldado” significa enviar a pessoa para servir no exército, como soldado. É interessante notar que a expressão está construída de tal maneira que não é familiar ao leitor. Isso se dá porque o texto foi escrito no século XIX e mantém a forma de se expressar da época. Martins Pena critica o mau uso do poder. O tom de comédia do texto deixa a crítica mais leve, mas o leitor pode dar-se conta de que, mesmo  depois de tanto tempo, o mau uso do poder ainda é um tema atual. Pode ser que o texto pareça antiquado, o enredo talvez trate de acontecimentos que não se veem mais nos dias de hoje, mas o tema do abuso do poder se mantém atual. Isso costuma acontecer com os textos literários.
Quando pensamos nos muitos casos que lemos, em jornais e revistas, hoje em dia, de pessoas que abusam do poder e da responsabilidade que têm, fazendo mau uso de seu cargo, podemos avaliar que esse problema não é novo no Brasil. Martins Pena é um exemplo de escritor que se sentiu incomodado com isso em seu tempo e o transformou em tema de sua obra literária. A crítica ácida da peça de Martins Pena fazia a pessoa rir e pensar na realidade a seu redor.
Chamamos de comédia de costumes àquela cujo objetivo é promover a crítica social do homem a partir de suas diferenças de classe social, de meio onde vive e da personalidade.
Será fácil exemplificar esse conceito, tão difundido, no teatro do século XIX, no texto de Martins Pena.
Cabe ressaltar que a televisão herdou a comédia de costumes: sua presença se faz sentir em telenovelas e em programas humorísticos específicos.

Obra completa em PDF:
JUIZ DE PAZ DA ROÇA

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